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Mostrando postagens de agosto, 2020

Vida em jogo

Há muitos e muitos anos, um senhor passou a fazer muito dinheiro com partidas de baralho.  Ele comprou carro, tinha uma fazenda de fazer inveja a qualquer fazendeiro da região do Sinunga, que fica numa pequena cidade chamada São Félix.  Não andava no luxo, suas roupas eram simples, mas dinheiro ele tinha o suficiente para viver sem trabalhar por muitos anos. Seu coração era enorme e não via maldade em ninguém. Ele ajudava todo mundo que pedia ajuda. Tristeza não tinha lugar em sua face. Ninguém sabe como conseguia vencer praticamente todas as partidas do jogo. Roubar não era o caso. Seus adversários prestavam bastante atenção nisso.  Seu Garapa, assim todos o chamam, tinha muitos amigos e alguns deles eram seus adversários nas partidas de baralho. Esses, na verdade, eram seus inimigos, a ponto de desejar todo tipo de mal para ele. Mas mantinha uma falsa amizade, e Garapa nunca percebeu nada. Ele até os tinham como os seus melhores amigos.  Joaquim, Rufino e Nadizo nunca se conformaram

Cachoeira é "sacudida" por tremor de terra

“As casas do povo aqui tremeram. Eu acordei doida, que o povo disse aqui que era a barragem. Meu Deus! Será que é o fim do mundo já? Ou é a barragem mesmo? Tá todo mundo aqui acordado na porta da rua. Disse que até estante e televisão tremeram”.  “Aqui na Ladeira da Cadeia disse que o povo tá tudo do lado de fora. Sacudiu a Ladeira da Cadeia. Eu perguntei a um camarada meu de Muritiba, disse que lá não viu não. Disse que ouviu um estrondo. Mas sacudiu? Sacudiu! Sacudiu o Morro e a Ladeira da Cadeia. E na Ladeira da Cadeia, saiu todo mundo pro lado de fora com medo”.  “Gente, alguém daí de Cachoeira tem alguma informação precisa sobre o tremor que disseram nas redes sociais?” “Eu vi um barulho de uma laje caindo, mas tremer eu não senti não. Só ouvi o barulho, mas minha amiga me disse que sentiu”.  Esses diálogos são de alguns áudios que circularam pelas redes sociais. Foi um disse me disse que não dizia nada.  Era a barragem, era o fim do mundo, até uma pedreira, em Muritiba, entr

Farinha de mandioca e sua produção

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Uma atividade que une família e vizinhança na zona rural é a produção de farinha. Aqui no Recôncavo da Bahia, especialmente na zona rural de Cachoeira, de São Félix e de Maragogipe a produção de farinha de mandioca é bem comum.  O trabalho começa com a colheita das raízes de mandioca, aipim, macaxeira, ou como queira chamar, seguida da raspagem, prensagem, torração e peneiragem. A produção de farinha na região não é uma das maiores, mas suficiente para abastecer o mercado local.  As etapas da colheita e, principalmente a da raspagem são as que mais exigem mão de obra. Esse é o momento que junta família e vizinhos para ajudar na tarefa. Ou seja, estreita mais os laços afetivos e culturais. Há momentos de conversas, risadas, lembranças, histórias, diversos assuntos são tratados ali. Como se diz por aqui, momento de jogar conversa fora.  Farinha vendida na feira livre         Crédito: Valdelice Santos  Muitas famílias produzem a própria farinha para o consumo e/ou para a venda. Elas plant

 O que tem neste prato? 

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Ninguém gosta de falar sobre os segredos culinários, às vezes até jura que não tem nenhum. Mas sabemos que todo cozinheiro/a ou aprendiz de cozinheiro tem um jeito especial de preparar seus pratos. Há também aquelas receitas que são modificadas de acordo com a região, aderindo elementos da cultura local, ou seja, por si só já tem seu próprio segredo.  O Recôncavo da Bahia é uma região cheia de pratos com sabores bem diferenciados, alguns até exóticos. O sabor agregado a esses alimentos tem grande influência da cultural africana, como a moqueca e o acarajé.  O pirão ou angu é um dos pratos mais diversificado que temos no Recôncavo. Não é exclusividade da região, mas, sem dúvidas, a receita é bem peculiar.  Os mais famosinhos são: pirão de galinha, principalmente caipira; pirão de peixe (mirim, moréia, tainha, pititinga, bagre, robalo, redondo); pirão de mariscos (siri, sururu, ostra, aratu, caranguejo, guaiamu, lambreta, mapé, sarnambis, camarão); pirão de carnes com verduras (cozido);

A vida no campo

Viver no campo, em contato direto com a natureza, é um privilégio. Dormir com o  canto dos grilos e sapos, sob a luz dos vaga-lumes, e acordar com galinhas e pássaros cantando é uma experiência maravilhosa, pelo menos para mim. Mas a vida no campo não se resume apenas a isto. Contarei aqui um pouco do tempo que morei nesse lugar.  Eu nasci em um sítio, numa zona rural de Coqueiros, distrito de Maragogipe, Recôncavo da Bahia, lá passei 19 anos, mas como recordo apenas flash de minha vida antes dos 7 anos, significa que só falarei de 12 anos de experiência da zona rural.  Vou começar pela comida. Afinal, quem não gosta de comer e comer bem? Quem mora no campo tem uma alimentação bastante saudável. Os alimentos são cultivados sem química e colhidos na hora.  Nossa família e outros moradores criavam galinhas, porcos e gados e nosso leite era fresquinho. Meu pai que tirava. Só ele sabia os truques para a vaca soltar mais leite.  Quando morava lá, o sustento da minha família vinha da renda