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Mostrando postagens de julho, 2020

A caixa

          S eu Gregório era um homem solitário, desfrutava seus 70 anos com muito vigor. Teve dois filhos com dona Zefa, mas depois que cresceram, decidiram morar na capital baiana. Dona Zefa morreu de causas naturais quando seu Gregório completou 66 anos. Depois disso, ele passou a morar sozinho, não gostava de muitas visitas, tinha apenas a companhia de dois cachorros, um gato e três pássaros, além de seu velho amigo rádio. Ele cultivava uma pequena plantação ao redor de sua casa, no Outeiro Redondo, comunidade de São Félix, de onde tirava boa parte do seu sustento.      Certa vez, apareceu na sua porta um rapaz com uma áurea esquisita, vestido com uma camisa azul e amarela e uma calça azul escuro, na cabeça usava um chapéu também azul, que cobria parte do seu rosto, os sapatos pretos estavam sujos de lama. Carregava também, uma mochila nas costas, alguns papéis e uma caixa nas mãos.      Seu Gregório estava sentado ouvindo rádio, como costumava fazer, depois de seu almoço. Na verdad

A fera lobisomem 

Falar de lobisomem?  Nossa, que medo.  Medo do que nunca vi, só ouvi,  Mas é medo.  Nada de ser igual a São Tomé, de ver para crer.  Não dá pra bancar a valente,  Era e sou valente na fé.  Na fé de nunca encontrar esse bicho.  Me gelo só de imaginar seus assovios agudos e penetrantes.  Cruz credo, quero nem pensar.  Pra fugir do bicho, só um bom atleta.  Isso era o que eu ouvia contar.  Ouvir muita coisa. Diziam que um truque pra escapar da fera é atravessar um rio.  Um rio? E quem ia achar um rio por aí?  Eu que nunca me atrevi, não saía a desfilar.  Coisas feias eu ouvi falar.  Até filhotes de animais não eram perdoados. Ah, se eu pegasse esse desgraçado.  Bem, se eu pegasse esse desgraçado dava uma surra de cansanção.  Só pra ele aprender e pelos outros ter compaixão.  Tô falando por falar, coragem para isso tinha não.  No chão dura já estaria, antes mesmo de ele me achar.  Meu pai conta sempre essas histórias Ele afirma ter visto o bicho  e nunca mais deseja encontrar.  Aqui no Rec

Velhas e boas brincadeiras

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E do nada, me bateu uma saudade enorme das minhas brincadeiras de infância e de adolescência. Quero compartilhar um pouquinho delas aqui. Se eu fosse dizer quantas brincadeiras divertidas tinham na minha época, digo dos anos 1990 para trás, escreveria um livro, falo isso sem exageros. Não eram poucas não, e não cansávamos de nenhuma. Tinha para todos os gostos, em grupo e individual.  Baleado, esconde-esconde, onoum (pular elástico), amarelinha, gangorra (balanço), pega-pega, salada de frutas (stop), sete pedrinhas, pedra capitão (cinco-marias), adoleta, carrinho de rolimã…. Nossa, como era divertido essas brincadeiras. Meus irmãos faziam carrinhos de madeira com pneus de sandália velha e ficavam perfeitos. Aqui, no Recôncavo da Bahia, essas brincadeiras eram a diversão de toda garotada. Se você for dessa época, aposto que vai lembrar de outras e bem legais também, daí de onde você mora.  Hoje, o máximo que a gente vê delas são as histórias de quem passou por essa fase ou, então, quand

A alma penada da igreja velha

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Era uma cena que ninguém desejaria ver e Carlinhos jamais pensou em estar naquele lugar e ouvir tudo aquilo. Foi horrível. Ainda bem que sua presença não foi notada.  Ouvia-se muitos sussurros ecoados dentro de uma igreja velha, ao redor de uma ilha, na comunidade de Coqueiros, em Maragogipe. O som foi ficando cada vez mais forte, Carlinhos se aproximou mais um pouco e passou a ouvir risos. Ele se desesperou.  Aquele lugar era bem deserto, pouco visitado, como poderia ter alguém ali dentro e ainda feliz? Carlinhos não parava de pensar nisso. – Mas por que eu vim parar aqui? O que está acontecendo? Não quero ficar aqui. O que eu faço agora? Não posso gritar, essa coisa vai me descobrir aqui. Mas por que ela está rindo? - se questiona, Carlinhos.  Carlinhos estava ali por acaso, não tinha notado que se distanciou tanto de sua casa. Sua pipa soltou de suas mãos e, sem saber ao certo onde caiu, ele saiu a procurar. Tudo que ele queria era sair dali o mais rápido possível.  O pobre garoto,