Vida em jogo

Há muitos e muitos anos, um senhor passou a fazer muito dinheiro com partidas de baralho. 

Ele comprou carro, tinha uma fazenda de fazer inveja a qualquer fazendeiro da região do Sinunga, que fica numa pequena cidade chamada São Félix. 

Não andava no luxo, suas roupas eram simples, mas dinheiro ele tinha o suficiente para viver sem trabalhar por muitos anos. Seu coração era enorme e não via maldade em ninguém. Ele ajudava todo mundo que pedia ajuda. Tristeza não tinha lugar em sua face.

Ninguém sabe como conseguia vencer praticamente todas as partidas do jogo. Roubar não era o caso. Seus adversários prestavam bastante atenção nisso. 

Seu Garapa, assim todos o chamam, tinha muitos amigos e alguns deles eram seus adversários nas partidas de baralho. Esses, na verdade, eram seus inimigos, a ponto de desejar todo tipo de mal para ele. Mas mantinha uma falsa amizade, e Garapa nunca percebeu nada. Ele até os tinham como os seus melhores amigos. 

Joaquim, Rufino e Nadizo nunca se conformaram com o fato de perder diversas partidas de jogo para Garapa. Em algumas dela, iam para casa seminus. E todas vezes que se encontravam, bolavam um plano para que ele perdesse as partidas. Mas o velho realmente era sortudo e nada o detinha.

Zé e Regis eram boas pessoas e gostavam da amizade do Garapa. Eles percebiam que Joaquim, Rufino e Nadizo não eram confiáveis, até alertaram o amigo, só que ele não lhes dava ouvidos. Sempre fazia chacota da história. 

Jogar baralho era o passatempo de muitos homens naquela época. Não era uma atividade legal, porém, vários lugares mantinham o jogo em segredo. Ali na mesa do jogo, na ânsia de não ir para casa de "mãos abanando", passavam a noite tentando obter a vitória. Quanto mais perdia, mais jogava. 

Essa era a rotina de Garapa e seus "amigos" todo final de semana  e, uma vez ou outra, em dias da semana também. Garapa sempre levava a melhor.

Numa certa noite de domingo, um plano macabro seria posto em prática. Tudo parecia normal, partidas rolando, barulho de copos de cachaça na mesa, gritos de fracasso, gargalhadas. Mas na mente de Nadizo, de Joaquim e de Rufino um plano estava pronto para se concretizar. 

Lá pela madrugada, Garapa estava feliz. Seu bolso quase não cabia de tanto dinheiro, nas mãos, vários pertences dos perdedores. Antes de ir para casa, seus três "amigos" fizeram questão de lhe dar bastante cachaça. 

Um pouco meio tonto, mas tinha equilíbrio suficiente para ir para casa sozinho, porém os "amigos" fizeram questão de lhe acompanhar. 

O caminho estava bem escuro, também não havia ninguém além deles. Então, quando os três perceberam que nada mais poderiam servir como testemunha, colocaram o plano em ação. 

Garapa sofreu duros golpes de pontapé, socos, pauladas. Por fim, asfixiaram até ele perder a consciência. E lá o deixaram sem nada nos bolsos.

De manhã, logo cedo, os moradores do local encontraram Garapa desacordo no meio do mato. Levaram para o hospital. Ele acordou, mas não conseguiu falar. Tentou de todo jeito, porém nenhuma palavra foi pronunciada. E sua história foi posta ponto final ali. 

A polícia investigou o caso, sem sucesso. Ninguém viu nada e quem desconfiava, jamais ousou falar. Os jogos ilegais por ali também tiveram seu fim e os três criminosos seguiram suas vidas como se nada tivessem feito.



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