Um louco defensor dos animais

         Seu João Mocô, um velho conhecido da comunidade do 135, em São Félix, andava chamando a atenção de todos na cidade pela forma que protegia os animais. Morava só e não tinha parentes próximos. Seu corpo franzino, estatura mediana e saúde debilitada por causa de uma diabete, não impediam de enfrentar qualquer pessoa que ousasse fazer algum sofrimento aos animais.
        Seu João defendia até as lagartas, abelhas, minhocas e formigas. Para ele não importava a espécie de onde os animais pertencessem. Se tivesse vida e não fossem capazes de se defenderem sozinhos, ele se sentia na obrigação de agir em sua defesa.
         Muita gente não dava bola para as atitudes de seu João e o taxaram de louco. Mas ele afirmava que realmente era louco, porém pelo bem-estar dos animais. Tinha um dia do mês que esse senhor reunia as pessoas de sua comunidade para contar a importância que os seres vivos têm na nossa vida. É nesses encontros, ele aproveita para contar sua paixão por animais. Seu relato chegava a emocionar a meia dúzia de pessoas que participam da reunião.
         O grande defensor dos animais contava que sentou-se na varanda de sua casa, numa certa tarde, quando de repente foi atacado por umas perversas formigas. Com muita raiva, por causa da dor que sentira, matou todas elas que lhe causaram sofrimento.
          A dor foi aliviando aos poucos e ali mesmo ele pegou no sono. Horas depois, acordou assustado, pois sonhava que uma formiga órfã implorava pedindo que ele devolvesse sua família, porque se sentia sozinha e não tinha mais ninguém para cuidar dela. Seu João, naquele momento, desconsiderou a sua idade de quase um século, pegou a formiguinha no colo e também chorou.
      Ao despertar do triste sonho, percebeu que havia uma pobre formiga sob o seu pé. Então, acreditou que o sonho pudesse ser realmente verdade. Tomando consciência de seu ato, nunca mais fez mal aos animais e não permitiu que outros também fizessem.

Valdelice Santos

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