Experiência com pombo



            Com leves e suaves voos, os pombos chegam prontos para dá boas-vindas a todos que visitam a cidade de Maragogipe. Sua fama já atingiu toda a redondeza da cidade e até mesmo a da região. 
      Há os que gostam, os que amam e os que odeiam. Odeiam por dois motivos: primeiro, porque acreditam que eles só fingem serem amigos para conseguir restos ou migalhas de comida, e segundo, porque fazem as suas necessidades fisiológicas bem em cima da cabeça das pessoas, às vezes erram a pontaria e cai nas costas mesmo. Aí, realmente ninguém gosta!
         Mas quem não teve a experiência de um dia se emocionar com um pombo? Se não teve, é uma pena mesmo. Outro dia, eu estava sentada na varanda de minha casa, que fica do lado da Igreja Matriz, lá tem uma grande concentração de pombos, pois bem, vi uma bomba, acredito que seja fêmea devido ao seu jeito meigo e delicado que teve ao pegar um pedaço de maçã, atirado na rua por uma criança mimada, que nem fez questão de comer. Ela mordeu e foi jogando os pedaços pela rua.          Ao ver isso, a pomba foi rapidinho pegar, mas não teve sorte, coitada. No meio a tanta fome, nem reparou que vinha passando um carro em alta velocidade, e pimba! A pobre faminta ficou ali mesmo, caída no chão por longo tempo. Nesses casos de pombos, não há resgate de ambulância ou coisa parecida. Mas então, eu fiquei pensando: como poderia salvar a vida daquela pomba tão indefesa?
         Não pensei duas vezes. Fui às pressas resgatá-la do meio da pista, outro carro poderia machucá-la mais ainda. Mas quando estava chegando mais perto, avistei uma família simples, de corpos sujos, pousarem do lado do corpo da pomba. Ela estava lá no chão, sem sinais vitais. Era a sua família que chorava a sua partida. Com leves toques de bicos, foram empurrando-a para longe da pista. Mas o mais doloroso estava para acontecer: no alto de um pequeno abrigo, ao lado da Igreja, ecoava cantos melancólicos com sílabas mal formadas. Eram seus filhos que choravam a sua morte.
       Meu coração doía muito e eu também fiquei triste. Afinal, não poderia fazer nada para ajudar aqueles pequeninos, que tiveram sua mãe morta porque procurava comida para alimentá-los.
       Ao perceber a minha chegada, todos voaram assustados temendo serem mortos por mim. Pena que eles não sabiam que eu só queria ajudar e estava tão triste quanto eles. Agachei-me, peguei-a na mão e acariciei suas penas com leves toques de meus dedos. E do nada, senti sinais de vida. Pensei: deve ser apenas a minha vontade que ela esteja com vida, que me faz sentir isso. Fique ali a olhá-la e contemplá-la. Sua família me observava ainda muito abatida.
         Fiquei curiosa e fui analisar o que teria provocado a sua morte. Vi que uma de suas asas tinha se quebrado. Fora isso, estava tudo certo. Seu coração batia, eu não estava louca. Ela estava viva! Levei-a rápido na minha casa e molhei com água gelada. A doce pomba abriu os olhos, se assuntou comigo e tentou voar, mas caiu no chão. Então passei a cuidar delas todos os dias. Ela ficou na minha casa, numa gaiola por um mês. Quando percebi que a minha mais nova amiga já estava curada, soltei e ela voou no vôo feliz para visitar a sua família e dá boas vindas a todos maragogipanos, novamente.

Valdelice Santos

Comentários

  1. Ô Val, que lindo!
    Uma boa ação, mesmo aos animais, que muitas vezes ignoramos, faz uma grande diferença para o mundo.
    Meus parabéns, admirei sua atitude.

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