Cidade Presépio agora é Patrimônio Cultural do Brasil

FOTO:Valdelice Santos
Morro do Cruzeiro, que dá título de cidade presépio, também foi tombado

A cidade presépio do Recôncavo Baiano, São Félix, é agora protegida nacionalmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), devido ao seu tombamento no início de novembro, após aprovação dos membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniu no Rio de Janeiro. A proposta de tombamento do conjunto urbanístico e paisagístico da cidade foi apresentada pela superintendência do Iphan no Estado da Bahia.
O Tombamento vai possibilitar proteção federal ao conjunto urbanístico e paisagístico de São Félix, que conserva arquitetura no estilo neocolonial e neoclássico, com prédios datados dos séculos XVII a XIX. Ainda possibilitará à cidade investimentos em seu patrimônio, além de preservar a memória de toda a região.
De acordo com o prefeito de São Félix, Alex Sandro Aleluia de Brito, a cidade terá mudanças significativas na parte comercial e turística. “Vai aquecer a economia da cidade, gerar emprego e renda para a população, e é o que nós precisamos na nossa região. Nós sabemos que na nossa cidade não temos um campo amplo de emprego e com certeza essas ações vindo pra São Félix, além de dá outra visibilidade, mostrando a história da cidade, ela também vai gerar emprego e renda para as pessoas”, prever prefeito.
Para a maioria dos moradores da cidade, o reconhecimento veio tarde, pois parte de seu patrimônio já foi destruído pelo tempo, a exemplo do casarão de Júlio Ramos, ex-prefeito de São Félix, e muitos outros foram modificados pelos próprios moradores, que não sabiam da importância daquele bem.
A área tombada foi a que lhe proporcionou o seu surgimento, que inclui as Igrejas de São Félix e de Deus Menino, parte da Ponte D. Pedro, a Estação Ferroviária e a murada ao longo do Rio Paraguaçu, além do morro que lhe confere o titulo de cidade presépio.

Primeiro reconhecimento

São Félix foi primeiro tombado municipalmente, pelo projeto desenvolvido pelo Conselho de Cultura, após observar que a cidade estava perdendo a sua característica original. Então, Ana Maria Fraga, secretária executiva do Conselho de Cultura, fotografou todos os bens, que o Conselho considera de grande valor cultural para a cidade, e analisou a proposta de tombamento. Foram usados três critérios para a elaboração do projeto de tombamento Municipal: a composição paisagística, o valor histórico e a característica arquitetônica.
Foram incluídos no projeto, ruas como a Manuel Vitorino, conhecido como Dendê, monumento, a exemplo do Cruzeiro, o calçamento da Ladeira da Santa Bárbara, além de casas e prédios com características antigas. “Os prédios contam uma história, sem isso vamos apagando a nossa memória e perdendo a história da cidade. Precisamos parar de pensar em São Félix só no hoje, precisamos pensar também no seu futuro”, salienta Ana Fraga.
Aproximadamente cento e cinqüentas casas foram tombadas. Durante o processo de tombamento, foi feita uma audiência pública com todos os moradores que tinham suas casas incluídas no projeto. Apenas dois moradores, de início, não queriam aceitar o tombamento de suas casas, pois pretendiam fazer modificações, como por exemplo, construir uma garagem, mas depois entenderam que não podiam fazer nenhuma modificação na parte exterior de seus imóveis.

Importância do tombamento

O tombamento é realizado pelo Poder Público com a finalidade de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados.
As pessoas que têm imóveis tombados devem preservar a característica original deste e caso queria vendê-lo deve comunicar previamente à instituição que efetuou o tombamento. “Quando se fala em tombamento, as pessoas têm medo, acha que o Estado ou o Município vai tomar suas casas", comenta Ana Fraga.


Conhecendo São Félix

A cidade de São Félix fica localizada no Recôncavo Baiano, a 110 km de Salvador e possui uma história profundamente ligada aos valores culturais baianos. Marcada pelo desenvolvimento da indústria fumageira, com a instalação das fábricas de charutos Suerdieck e Dannemann, dentre outras.
A cidade tem sua origem no aldeamento dos índios Tupinambás que habitaram às margens férteis do Rio Paraguaçu. Em 1534, esse aldeamento tinha cerca de 20 palhoças habitadas por mais ou menos duas centenas de índios.
Em 1822, durante as lutas pela Independência da Bahia, São Félix prestou relevantes serviços lutando ao lado de Cachoeira, à qual era vinculada administrativamente, e nesta luta o sangue sanfelixta banhou o solo em defesa do Brasil. Naquele lendário mês de junho, São Félix também transformou-se numa praça de guerra, entrou em luta em prol de uma causa comum.
São Félix já era um povoado próspero com casas sobradadas e o comércio já desenvolvido com recursos para se manter. Foi elevado à categoria de cidade através do Ato Estadual de 25.10.1890, com a denominação de São Félix do Paraguaçu, topônimo que se estendeu para o município, simplificado novamente para São Félix, por Decreto Estadual de 08.07.1931.

Valdelice Santos

Comentários

  1. São Félix merece! Que consiga progredir com o título.
    Parabéns pela matéria, minha querida.

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  2. Val, postei parte do seu texto no meu blog.
    Parabéns pela matéria, está ótima!
    Beijos

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