História de mais de dois séculos

Foto: Valdelice Santos
As Irmãs percorrem as principais ruas da cidade,
em devoção a Assunção de Nossa Senhora da Glória

A festa da Irmandade da Boa Morte é realizada anualmente, entre os dias 13 e 17 de agosto na cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia. É uma festa religiosa composta de missas, vigílias noturnas, procissões, ceias e samba de roda, repetida a mais de dois séculos. Atrai turistas de diversas nacionalidades. Neste ano mais de cinco mil pessoas acompanharam os festejos da Irmandade.
A parte religiosa da festa da Boa Morte é representada nos três primeiros dias, encenando a morte da Virgem Maria, sendo que as vestes das Irmãs são diferentes em cada dia de festa.
No dia 13 ocorre a missa das irmãs falecidas, 14, a procissão da Boa Morte, e 15, a missa festiva da Assunção de Maria, que se finaliza com samba de roda.
Nos últimos dias da festa,16 e 17, inicia-se a parte profana, e é servido cozido e caruru, acompanhados de samba-de-roda no Largo D'Ajuda .
Ela foi oficializada como Patrimônio Imaterial da Bahia no dia 25 de junho deste ano, pelo governador da Bahia, Jacques Wagner, durante a sessão especial na Câmara de Vereadores da cidade de Cachoeira.

Início da devoção

A devoção da Boa Morte teve início na segunda metade do século XIX, nas senzalas onde os negros escravos se reuniam no final do dia, depois da j ornada de trabalho, para comer, dormir e rezar por aqueles que foram assassinados nas lutas pela libertação. As mulheres, durante estes encontros, pediam a Nossa Senhora da Boa Morte o fim da escravidão, e prometiam realizar todo ano a sua Morte e Assunção. Conseguida a tão sonhada liberdade, a promessa é cumprida tradicionalmente pelas irmãs, que tem a obrigação de realizar uma festa anualmente, em devoção a ela.
A entidade foi fundada em 1823, e tem por objetivo promover as festividades por ocasião da Morte e Assunção de Nossa Senhora da Boa Morte , em agosto. A cerimônia realiza-se como o pagamento da promessa, e gratidão dos escravos pela libertação.

Critérios para ser “Irmã”
São vários os requisitos para ingressar na Irmandade: É preciso ser mulher, ter mais de 40 anos, ser afro descendente, ser ligada a alguma entidade do candomblé, e ter o propósito de conservar as raízes africanas, além de se dedicar bastante à devoção da Virgem Maria. Além disto, é necessário que a candidata se comprometa a passar três anos trabalhando para a festa da Assunção, sob a supervisão de uma Irmã. Neste período, a candidata é identificada como “Irmã de Bolsa”. Se sua conduta for aprovada, a mesma entrará para a Irmandade, ocupando o cargo de escrivã, só passando a ser considerada oficialmente uma “Irmã”, quando tiver méritos para exercer outro cargo.

Formação da Entidade

A direção da Entidade é formada por quatro “Irmãs”, responsáveis pela organização da festa. O cargo mais importante é o da Procuradora Geral, seguido da Provedora, da Tesoureira e por último a Escrivã. As dirigentes são eleitas por voto, comum ano antecedente à data da festa da Boa Morte. Acima do cargo de Procuradora Geral, esta o da Juíza Perpétua, representada por uma das mulheres mais velhas na Irmandade. Esta deve coordenar todos os rituais públicos e privados.
A cada sete anos, acredita-se que a própria Nossa Senhora da Boa Morte assume o lugar de Provedora da devoção. O quadro da Irmandade reúne 22 Irmãs de Cachoeira, Maragojipe, Muritiba e São Félix.

Dias de Simbolismo

Foto: Valdelice Santos
A parte religiosa da festa é dedicada
a Nossa Senhora da Assunção

A festa da Boa Morte é comemorada em Cachoeira, entre os dias 13, 17 de agosto. Os festejos da Irmandade da boa morte, composta de mulheres afro descendentes com idade acima de 40 anos, começa no dia 13, com o ritual do traslado do esquife de Nossa Senhora, com saída da Capela d'Ajuda, com destino à capela da Irmandade, na Rua 13 de Maio. Nesse dia, as irmãs vestem-se de branco em sinal de luto. Em seguida, participam da Ceia Branca, com familiares e convidados.
No dia 14, as integrantes da Irmandade usam a beca com saia preta plissada, blusa branca bordada e cobrem os cabelos com um lenço branco bordado, chamado bioco. Elas usam também um xale de veludo, que possui duas faces: uma preta e outra vermelha. Durante o ritual da procissão, que simboliza o enterro de Nossa Senhora, as irmãs usam o xale com a face preta à mostra, e percorrem as principais ruas do centro histórico de Cachoeira, seguida de filarmônicas que tocam marchas fúnebres.
No dia 15, acontece a procissão da Assunção de Nossa Senhora. O cortejo sai da igreja da irmandade após missa. Nesse dia, considerado o ponto alto da programação, as integrantes da Irmandade vestem a beca, usam, jóias e deixam à mostra as contas de seus orixás, além de deixar a face vermelha do xale exposta. Essa manifestação é marcada pelas cores das flores que decoram o andor de Nossa Senhora da Glória, foguetório e muita alegria. Para as irmãs é o dia da Ressurreição de Nossa Senhora e por isso é festejado dessa forma.
Após a procissão, as irmãs trocam o traje de gala por saias coloridas e blusa branca. Todas participam do samba de roda em homenagem a Nossa Senhora. A Irmandade oferece um banquete com feijoada, assados e saladas.

Valdelice Santos

Comentários

  1. Gostei muito do texto
    que bom que São Félix foi tombada...
    As.: Adriana

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Literando

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