O vôo de adeus

     Eu estava jogada no sofá ouvindo músicas e pensei que nada fosse me acontecer de bom naquele dia. De repente, ouvi alguém me chamando bem alto:
       – Viviane. Viviaaane, você está aí?
Fui até a porta verificar quem poderia ser. Era minha vizinha, dona Clara.
       – Olha o que eu trouxe para você!
       – Para mim? Mas como eu vou cuidar dele?
       – Dê frutas batidas, pão molhado na água e muito amor.
       Eu o peguei em minhas mãos com cuidado e fui providenciar comida, pois ele parecia estar com fome. Era um pequeno filhote de periquito, meio confuso ainda com o novo lar.
       Tratei logo de pensar num nome para ele. Veio-me vários na cabeça, mas como ele era muito doce, batizei-o de Mel. Ensinei bastantes coisas a ele e como era muito inteligente, aprendeu tudo rápido.
       O tempo foi passando e nos tornamos uma grande dupla. Brincávamos de esconde-esconde, ele fazia carinho no meu cabelo e até falava pequenas frases. Toda vez que Mel via alguém comendo qualquer coisa, dizia:
       – Eu quero. Eu quero.
       Mel era um periquito muito fofo. Brincava com todo mundo que se aproximasse dele. Como se comportava direitinho, consegui uma namorada para ele, a qual chamei de Duma, foi a mesma vizinha quem me deu.
       Tudo estava muito bem entre mim, Mel e Duma. Precisei viajar para Cabaceiras do Paraguaçu e deixei os dois com meus pais. Despedi-me deles com muito beijinho e prometi voltar logo.
       Passaram-se três dias. Quando cheguei de viagem de minhas férias, minha mãe disse-me com um tom de tristeza:
       – Mel foi embora.
       – Embora? O que aconteceu com ele? – perguntei perplexa.
       – Eu e seu pai estávamos brincando com ele no quintal e ele voou. Foi tão rápido que não conseguimos pegá-lo de volta.
       Meu mundo desabou naquele momento. Como eu iria viver sem Mel? Duma também ficou muito triste. Não conseguimos entender porque ele foi embora, e nem sequer esporou por mim.
       Saí por todo São Félix perguntando:
       – Você viu um periquito?
       Mas a resposta era sempre negativa. E assim passou o tempo, Mel não deu nenhuma notícia de onde e como estava.
       Foi difícil, mas Duma e eu tivemos que aprender a viver sem o brincalhão Mel. E nada mais ficou tão doce sem ele.


Valdelice Santos

Comentários

  1. ôoo Mel... Mas ele era um periquito muito do esperto, então; a ponto de falar....Quase um papagaio!! xD

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